Você não precisa de mais proteína!!!

A proteína, frequentemente chamada de "o tijolo do corpo", conquistou o centro das atenções nos últimos anos, especialmente no mundo da saúde e fitness.

A ascensão da moda da proteína não é apenas uma questão de ciência ou saúde, mas também fruto do poder da mídia e da influência dos grandes players da indústria alimentícia e de suplementos.

Campanhas publicitárias exaltam produtos ricos em proteínas como essenciais para um estilo de vida saudável ou um corpo ideal, criando uma demanda artificial por esses itens.

O foco nesse nutriente também é um reflexo direto de estratégias de mercado, que lucram com o medo da deficiência proteica e a obsessão por performance e estética.

Esse movimento transforma um nutriente essencial em um produto da moda, às vezes desconsiderando nuances científicas e a individualidade de cada pessoa, e mascarando a importância de uma alimentação equilibrada e diversificada.

Dietas hiperproteicas, suplementos em pó e até snacks proteicos tomaram conta das prateleiras e das redes sociais.

Mas será que realmente precisamos de tanta proteína assim?

A sabedoria moderna nos alerta para os excessos, e no Ayurveda, um sistema de saúde milenar, já se sabia que alimentos altamente nutritivos como as proteínas animais devem ser consumidos com moderação.

Afinal, mais nem sempre significa melhor, especialmente quando se trata de saúde no longo prazo.

O papel da proteína: fisiologia e sabedoria ancestral

Na nutrição moderna, a proteína é essencial: ela constrói, repara tecidos e regula funções cruciais do corpo. Estudos científicos recomendam entre 0,8g e 1,6g de proteína por quilo corporal, dependendo do estilo de vida, nível de atividade física e estado de saúde.

No entanto, no Ayurveda, a alimentação é vista de forma mais completa e holística. Proteínas, especialmente as de origem animal, são reconhecidas como alimentos altamente nutritivos. Porém, ao mesmo tempo, o Ayurveda nos ensina que carnes de origem animal são alimentos tamasicos e "pesados" para o Agni — o fogo digestivo responsável por metabolizar nutrientes e eliminar toxinas.

Quando o Agni é sobrecarregado pelo excesso de alimentos densos e difíceis de digerir, como carnes e produtos hiperproteicos, ocorre a formação de Ama — um resíduo tóxico metabólico (a parte do alimento que o corpo não conseguiu digerir) que, cumulativamente, leva a desequilíbrios na saúde, como inflamações, doenças cardiovasculares, problemas digestivos, embotamento mental e outras doenças crônicas.

Ciência moderna: o que os estudos dizem sobre o excesso de proteína?

Pesquisas recentes confirmam o que o Ayurveda já apontava há milhaaaaares de anos: o excesso de proteínas pode ser prejudicial.

Aqui estão os principais achados científicos:

  1. Impactos na digestão e saúde metabólica


    Dietas hiperproteicas carregadas de carnes, suplementos proteicos e lácteos podem levar à sobrecarga do sistema digestivo, causando náuseas, diarreia e desconfortos intestinais. Estudos também alertam sobre o aumento no risco de disbiose intestinal, com a proliferação de bactérias nocivas.

  2. Doenças cardiovasculares


    O excesso de proteínas de origem animal, que geralmente vem acompanhado de gorduras saturadas, está relacionado ao aumento do colesterol LDL (colesterol “ruim”), formação de placas de gordura nas artérias e maior risco de doenças cardiovasculares.

  3. Sobrecarga renal


    Altas ingestões de proteínas causam aumento da excreção de nitrogênio através da urina, sobrecarregando os rins. Embora níveis moderados sejam seguros para indivíduos saudáveis, consumir mais de 2g por quilo corporal ao longo do tempo pode agravar problemas renais preexistentes.

  4. Inflamações e estresse oxidativo


    Proteínas em excesso, especialmente aquelas ricas no aminoácido leucina, podem aumentar inflamações sistêmicas e o risco de aterosclerose, além de promover estresse oxidativo, que acelera o envelhecimento celular.

  5. Risco de Ama no longo prazo


    Do ponto de vista ayurvédico, os problemas listados acima podem ser entendidos como os efeitos cumulativos de Ama: quando o corpo não consegue eliminar completamente resquícios metabólicos, surgem inflamações e bloqueios energéticos que agravam o potencial de doenças pela depleção do Agni.

O que o Ayurveda diz sobre o excesso?

No Ayurveda, equilíbrio é sempre a chave. O foco não está apenas no quanto comemos, mas na qualidade, no ritmo e na capacidade do nosso corpo de assimilar os nutrientes.

Excessos regulares, especialmente de proteínas pesadas como carnes vermelhas, “apagam” o fogo digestivo e impedem a digestão completa. Alimentos não digeridos se transformam- em Ama, que pode se acumular ao longo da vida em sistemas vitais como o coração e os rins.

O Ayurveda recomenda priorizar proteínas leves e mais fáceis de digerir, como vegetais e leguminosas.

Digerir proteínas depende do estado do Agni, que flutua ao longo do dia. É mais forte no meio do dia, mas mais fraco durante a noite. Por isso, refeições noturnas devem ser leves.

O consumo excessivo de proteínas pode agravar os doshas Vata e Kapha. Como resultado, o corpo pode desenvolver sintomas como lentidão, acúmulo de gordura, rigidez, problemas nas articulações, problemas intestinais e embotamento mental.

Esqueça as metas proteicas > > > escuta, cuidado e consciência no lugar de números

Vivemos em uma era em que metas dominam nossa relação com a comida (aiii mais metas não, por favor!) — quantidades rígidas de calorias, gramas de proteína e outros nutrientes são tratadas como regras a serem seguidas.

No entanto, essa abordagem muitas vezes nos desconecta do corpo e suas necessidades reais, transformando a alimentação em um exercício mecânico e até estressante.

O que seu corpo realmente precisa não é de mais cálculos nem metas proteicas diárias.

Em vez disso, é essencial cultivar escuta, atenção, diversidade alimentar e consciência — um convite para se reconectar com o ato de comer como algo natural, prazeroso e equilibrado, sem ceder ao ruído das tendências supervalorizadas.

Nosso corpo é sábio e sabe comunicar suas necessidades. Ele é INTELIGENTE!

Nem todos precisamos consumir o mesmo volume de proteínas diariamente, e você não deve moldar sua dieta com base em recomendações genéricas.

As pesquisas mostram que, em geral, a maioria das pessoas já consome proteína MAIS DO QUE suficiente para suas funções corporais. A OMS recomenda que o valor energético diário seja de 10% a 15% de proteína. E os brasileiros consomem, em média, cerca de 18%, mesmo na população de baixa renda.

O segredo está em identificar o que funciona para você: suas fases da vida, rotina de atividades físicas e suas condições de saúde.

Em vez de colocar foco em atingir entre Xg de proteínas por quilo corporal ou X% do valor diário, busque observar como sua alimentação proporciona energia, vitalidade e bem-estar.

Se você come equilibradamente e respeita sua fome de forma consciente, as quantidades adequadas se ajustam naturalmente.

A supervalorização da proteína ignora um fato crucial: nosso corpo não precisa de excessos para ser saudável. Com base no Ayurveda e nas evidências científicas modernas, o caminho ideal é o equilíbrio (é clichê mas é real).

Respeite seu Agni, evite sobrecargas e, acima de tudo, alimente-se de forma consciente e com alimentos diversificados de qualidade. Afinal, nem sempre o que está na moda é o que faz bem para você.

Você não precisa de mais proteína; o que realmente precisa é de uma alimentação que respeite a sua constituição física e se adeque ao seu estilo de vida!

Fontes:

https://pubs.rsc.org/en/content/articlelanding/2016/fo/c5fo01530h (acesso em 15/09/25)

https://jornal.usp.br/ciencias/proteina-nao-precisa-ser-a-protagonista-para-uma-alimentacao-saudavel/ (acesso em 15/09/25)

https://jornal.usp.br/radio-usp/consumo-excessivo-de-proteinas-pode-causar-doencas-cardiovasculares/ (acesso em 15/09/25)

https://catedrajc.fsp.usp.br/publicacao/o-mito-do-deficit-proteico/ (acesso em 15/09/25)

Susruta Samhita Sutrasthana, Caps. 20 e 46

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